martes, 19 de diciembre de 2006

ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS

Me escreve Laura, de Buenos Aires,
(De quem guardo sorrisos em San Telmo)
Para contar-me dos tempos difíceis,
De amigos internados, de amores incompreensíveis.

É terca-feira, noite, dez horas e há um naufrágio
Nos costados dos edifícios, filas infindáveis
Nas portas dos bancos e um quadro
De Hockney me lembra que a felicidade
Refletida nas águas da piscina
Nao é mais uma coisa possível.

Esse papel em que escrevo me é estranho,
ileso às crises, à política, aos planos econômicos, mas não
A este lápis que lhe deposita grafite,
Dando-lhe motivo para reter letras.

Laura não está distante
(Tento em vão convencer-me
Que a distância é tempo)
E é parte da vida como a música, a arquitetura,
As cidades.

Ela tem para si e o saboreio dos tímpanos
Uma voz longínqua que a impele à resistencia.

É a minha voz, indecisa e recolhida,
A dois instantes da vida,
Indefesa, sem palavras
e um lar para o seu rumo.

Março de 1990

No hay comentarios.: