sábado, 12 de noviembre de 2016


Nada a Dizer

Tudo que tenho a dizer
Já foi dito.
Não existe poema
Inaudito,
Não existe palavra que ecoe
Por séculos e que ainda
Tenha alguma coisa a dizer.

Sem perceber
Disso já disse
Heráclito ou Aristófanes,
Aristóteles ou Kavafis,
Apenas para citar gregos.

O que tenho a dizer já ocorreu
Há milhares de anos
A milhares de pessoas e
Seus sentimentos.

O que tenho a dizer
São sedimentos,
Não dizem muito,
Talvez nada,
E ecoará como
Um zumbido de um único grão.

O que tenho a dizer
Não explorará,
Não regenerará,
Não reverberará
Depois da minha morte.

O que tenho a dizer
Se perde num grito
Que não foi,
Nem precisa necessariamente soar
No infinito.

O que tenho a dizer
A ninguém interessa
Mas se me calo,
Ouço o oco do aço
O cabaço, o osso,
Se não ouso falar.

E se me calo,
Indefectivelmente resvalo
Nas sombras das palavras.

E entendo tudo o que em mim
Nunca pode existir.

                                                                                                      Buenos Aires, 14/10/16

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