lunes, 21 de enero de 2008

A Cor do Silencio

  • Vega Sicilia...e o Touro Osborne.

Omnipresente. Sim. Por todas as estradas espanholas, onde coloques a mirada, o Touro Osborne. Mas, ao alcançar a Andaluzia, é como se ele estivesse na sua terra. O touro, los gitanos, o trigo. Jerez de la Frontera, Jaén, Granada, Sevilha, Córdoba.

  • Aonde é que fica a Catedral? “Na tua frente”, respondi. Mas, isso nao é a famosa Mesquita? “Sim, e a Catedral”. Aonde? “Na Mesquita”. Uma coisa foi construida em cima da outra, uma coisa sobre a outra. Ah, basta de explicações.

Joé...Qué Caló”, dizia uma camiseta encontrada em qualquer loja de souvenir da Andaluzia. Ao meio-dia era insuportável naquele Julho. Ele olhava tudo com uma insaciedade incrível, como um menino, perdido entre os brinquedos. Perdido. Ele se perdia. O seu tempo passava. O tempo o via passar. Quase fim.

Havia passado a vida. Desde pequeno, aprendeu que as dificuldades, as dores constantes, era o teor da vida. Impossível desfrutar. A vida: marco de um sofrimento sem fim. Mas agora estava perto. Ele podia relaxar.

Saimos cedo de Cádiz, e ele me disse: Quero conhecer Portugal também. Está logo ali, depois de Huelva. E tudo aquí fica tão perto. Se lembra quando nós fomos do Rio a Porto Seguro direto, em 11 horas, com uma estrada toda arrebentada, cheia de caminhões? Se lembra que depois de Campos, no crepúsculo, um caminhão veio na nossa direção e quase nos fez purê? E ele riu. Fazia muito tempo que não ria. Eu deixei que os meus lábios se esticassem, em consentimento.

Mas nós vamos para o outro lado, para Gibraltar. El peñón de Gibraltar. Se lembra? Você queria conhecer Gibraltar e, depois, cruzariamos para Marrocos”. É que eu já não posso mais. Estou muito cansado. Quero voltar para a terrinha. E se calou. Não emitiu mais um som. Fazia muito calor.

Dirigi aquele dia em pleno silêncio. Não ousava, sequer, colocar uma música. Era um barulho de motor com o vento quente entranhado. E nada mais. Nada.

Chegamos. Nos alojamos. Esta noite reinaria o silêncio. Fomos dormir. Fazia calor. Súbitamente, ele sentia o frio. Entrava pelos ossos. Abri o armário e encontrei uma colcha. O abriguei. Ele começou a suar frio. Os pêlos do tornozelo dele grudaram na colcha de chenile. Continuava sentindo frio. E disse: a terrinha. Depois daqui, seja como for, me leva para Portugal. Era noite. E reinou o silêncio. A cor do silêncio.


2 comentarios:

Maria Laura dijo...

Engraçado. O nome do blogue veio de um poema que fiz há um ano, mais ou menos e que, lá pelo mei, dizia:

"Que se oiça o silêncio por dentro da cor
dos sons
até que a claridade se revele inteira
sem sombras de fingida dor."

Daí, de "silêncio por dentro da cor" acabou por ser "A cor do silêncio". Como chegamos às mesmas figuras poéticas, através de caminhos diversos!

Aníbal Menezes Neto dijo...

Oi, Maria Laura. Achei curioso também e foi por isso que eu tomei a liberdade de te indicar o caminho até o meu blog. Sem querer ser piegas (mas sendo): sao diversos os caminhos da palavra. Parabéns pelo teu trabalho.