martes, 15 de enero de 2008

A partir de Maio faz frio em Cachi

“A partir de maio já faz frio em Cachi”, ela me disse, como se fosse para mim alguma novidade. Foram várias as vezes que subi a Cuesta del Obispo. Em maio.

Silêncio. Na Reta Tintin, circundado de cardones, eu lhe falei de um lugar onde nos sentiríamos no deserto. Sua gratidão me conformou. Partimos em silêncio. Paramos. Escutamos o vento. Congelamos. Como as nossas idéias. Congeladas pelo frio matinal do alto da Cordilheira dos Andes. Partimos de novo. Em silêncio.

Dizem que o frio máximo se alcança depois das 8 da manhã, depois que saia o sol. Depois. Nunca antes. Nunca no crepúsculo. Nunca na alvorada. Nunca. Sempre um frio seco, desértico. Depois que as coisas belas ocorrem. Depois.

São tantos os anos que estivemos juntos. Uma infrutífera vida a dois. É por isso que aquele silêncio, da Reta Tintin, era como um espelho, iluminado pelo sol matutino e um céu de um azul sem igual. “A 4.000 metros de altura, com pouca densidade de oxigênio, o céu é de um azul indescritível”, ela me disse, apesar da obviedade. Mas eu estava grato. Ela também. A sua gratidão me conformou. Estavamos juntos quando tantos já se haviam bifurcado, quando outros já se haviam ido para o outro lado. Estavamos juntos.

Mas essa era a partida. O fim que se vê no final das coisas. O fim da Reta Tintin. Há poucos quilômetros estaríamos em Cachi. Antes teríamos que descer quase 300 metros. O céu nos acompanharia. Límpido e belo. Havia silêncio. Já não havia mais vento. Partimos em silêncio. Com o som do silêncio. Em pleno deserto.

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