sábado, 27 de agosto de 2016


Invenções do Sol


Com a sabedoria prematura

De crianças e velhos

(que são a mesma fibra),

observando o minúsculo,

Surcando o desapercebido,

en silencio,

Do assento traseiro do carro,

Enquanto eu o levo ao jardim,

Me disse:

                          “O sol inventa as coisas:

                            Os carros, os edificios, as ruas”.


Deslumbramento de luz,

Revelação de sentido

e sentimentos

Da criança

Que contém a criança

Dentro do velho.


Reverberação do tempo,

Do alto do tempo (não outro):

Tempo da água,

Que nos faz sal,

Que nos faz terra,

Que se nos oferece em vento.


É a minha criança e eu, sós,

Donos do nosso silencio.


E choro como a criança

do silencio

Dentro do velho,

Que é meu avô, meu pai e eu mesmo.


E vejo pelo espelho o seu rosto

Junto ao rastro de carros

No teatro da rua,

Que sempre vão

Aonde sempre vamos,

Juntos, rumo ao seu jardim.


E eu vejo a mim mesmo

No espelho,

Numa levitação circunstancial.


E eu lhe digo:


                     O sol desenha as coisas,

                     acende cores.

                    E o vento, sonda os voos.

                    E o ar se move em sons.

 

E o tempo é a pior

escravidão do ser.

                                                            Buenos Aires, 05/08/16

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